Quando esperamos que uma situação aconteça e ela não se realiza, resultando disso um suposto prejuízo, nossa expectativa se quebra e a culpa surge. Isso é muito comum em relacionamentos e, muitas vezes, pode levar ao fim da relação até mesmo quando existe amor. Exemplo: eu espero que você chegue a minha casa. Você não chega e não me avisa que não vai chegar. Depois de duas horas esperando, você finalmente aparece. Eu cobro a demora e você inventa algo para justificar o atraso. Eu acato e a culpa vem em você. Mas por quê? Esse é um mecanismo extremamente simplório de como a culpa pode aparecer. E será que assumir a culpa ajuda na reconquista do seu amor para reatar um relacionamento perdido?
A culpa prevê que eu impus um prejuízo a alguém. No entanto, podemos também provocar o sentimento de culpa na pessoa amada, fazendo-a acreditar que o que ele fez ou deixou de fazer trouxe um prejuízo que demandará um desgaste emocional, físico, espiritual, financeiro ou de relação. No exemplo acima, poderia inverter a situação dizendo que você demorou duas horas porque teve que organizar alguma coisa que era interessante para mim… A culpa passa a ser minha porque o outro estava em função de minhas necessidades! Louco isso não é?
Veja um outro exemplo que é vivenciado em todas as famílias: é comum que toda mãe e todo pai numa relação de cuidado verdadeiro criem expectativas em relação aos seus filhos. E quando os filhos não conseguem (ou não querem) encaminhar a vida como seus pais queriam, os pais logo reagem. Eles bradam: “mas o que fiz de errado?”. Aprender a superar essas angústias pode trazer um desgaste emocional tremendo!
Esse mecanismo de jogar a culpa de um para o outro, nos relacionamentos amorosos acontece muito porque o que está em jogo são sentimentos e sensações não muito concretos ou nada concretos. O quanto devo cobrar a presença ou ausência do outro? O quanto devo suportar o ciúme pelo trabalho que o outro realiza? O quanto devo estabelecer limites em seus relacionamentos? E se o fizer, ele deixará de viver, de se relacionar, de trabalhar por “minha culpa”. Esse sentimento trás um prejuízo e eu sinto-me na obrigação de reparar o que eu supostamente fiz…
A medida em um relacionamento amoroso é o quanto estou sentindo-me feliz ou não, embora isso seja de caráter completamente subjetivo, é sentido.
Por que assumir a culpa ajuda na reconquista do meu amor?
Pois é… Daí vem um ditado popular e diz assim: “você quer ter razão ou ser feliz?”
Às vezes a felicidade tem outro parâmetro que é o “sinto-me tão bem, mas tão bem ao lado de alguém que nem se me impuserem culpa, eu deixo dele.” É um jeito perigoso de viver, mas as pessoas também vivem assim. Digo perigoso porque podemos nos acostumar a levar sempre a culpa pelos pecados do mundo somente para garantir a presença de quem amamos, ou seja, para mim o importante é ser feliz com razão ou sem ela. O limite disso é de cada um. Muitas vezes temos essas atitudes com crianças, com gente mais nova ou com gente inexperiente porque sabemos que o “dia da consciência” chegará.
No entanto, os relacionamentos amorosos são muito complicados mesmo. Entra aí o medo de perder a pessoa amada. O medo de não ser aceita por mais ninguém e assim o mecanismo perverso da culpa nos vai aniquilando até não sobrar muita coisa porque abrimos mão demais. Admitir a culpa, via de regra é inteligente e demonstra humildade e segurança, contudo ser estratégico também é inteligente. Admitir a culpa a alguém que utilizará disso pra nos espezinhar, também é perigoso. Não há regras, ao há receitas, há cuidados que devemos ter para que a “emenda não seja pior que o soneto”.
Em nossa sociedade de uma maneira geral, não somos acostumados a pedir desculpas, perdão e ratificar os prejuízos que cometemos. O mais comum é que as pessoas se escondam, tanto é assim, que quando alguma coisa acontece nesse sentido, vai até para os jornais! Vindo da política, então… Mas isso é assunto para outro artigo.
Tenha certeza de uma coisa, quando admito o meu erro, ganho uma estrelinha para mim mesmo/a. Tornar consciente nossos erros é pedagógico, nos ensina, antes de ensinar ao outro. Por vezes dói e nos faz passar vergonha, mas é necessário.
Voltar atrás. Eu não consigo!
Uma amiga me disse uma vez que fez sua filha (tinhas por volta de 5 anos) devolver algum objeto que tirou do vizinho sem falar com o tal vizinho. A pior parte da cena não foi devolver e sim pedir desculpas por ter tirado! (a mãe a obrigou a pedir desculpas). Uma menina de 05 anos já tinha em seu padrão mental que pedir desculpas era humilhante! Penso que devemos rever nossos padrões de comportamento e os comportamentos que estamos formando em nossos filhos. Pedir desculpas não é humilhante, muito pelo contrário, na grande maioria das vezes, salva! Cura! Liberta e abre caminhos. Reconquistar a partir de um pedido de perdão passa por tudo isso, sem dúvidas.
Como bem sabemos, nós não brigamos sozinhos. O relacionamento é complementar, por isso se chama relacionamento. Um está complementando as necessidades do outro a todo tempo. Ficamos em um relacionamento até o momento em que ambos estamos ganhando e não há desequilíbrio. Quando percebemos que esse desequilíbrio chegou… Amigos e amigas, nessa altura a coisa já está por um fio! No entanto, como não somos perfeitos, o desequilíbrio pode ser causado por alguma coisa que fizemos, então aí cabe sim o pedido de perdão, porque não? Passe por cima desses paradigmas irracionais e peça perdão. Assumir a culpa ajuda na reconquista do seu amor sim, sobretudo quando você o faz com o coração aberto. Pedir perdão é um ato corajoso e demonstra que você compreende que as pessoas são como são: contraditórias, frágeis e que precisam a todo instante ser cuidadas para não esmorecer.